Artigo especial! Convidamos a fotógrafa Katia Lopes para contar uma experiência maravilhosa com o seu projeto Memórias Fotográficas – Mães Indígenas. Confira!
Hoje, cada vez mais registramos cada momento especial de nossas vidas; desde uma gestação, passando pelo nascimento do bebê a aniversários e casamentos. Seja pela contratação de um fotógrafo profissional, com câmera fotográfica particular ou mesmo pelo próprio celular, não deixamos de registrar grandes momentos.
Foi pensando em dar oportunidade a mães indígenas para que também pudessem ter registros fotográficos de seus filhos que criei o projeto Memórias Fotográficas – Mães Indígenas.
Foi um verdadeiro privilégio a chance de passar quatro dias numa aldeia, fotografando nove crianças de diferentes famílias. Elas tinham de quatro meses a cinco anos de idade. Foi um trabalho maravilhoso, uma vez que nenhuma das mães tinha sequer uma única foto de seus filhos, e, claro, elas ficaram muito felizes. Cada uma delas ganhará um álbum de presente, em parceria com a Digipix Pro.
Memórias Fotográficas – Mães Indígenas e CASAI
Lá, na aldeia, fui acompanhada pela equipe da CASAI (Casa de Apoio à Saúde do Índio). A psicóloga Renayne Azzi me apresentou para a liderança da aldeia e expliquei o projeto. Conversei também com algumas mães, contei que o projeto consistia em fotografar as crianças para que elas, as mães, guardem essas lembranças de seus filhos. E que também cada criança, quando for adulto, tenha esse registro. As próprias mães me contaram que não têm nenhuma foto delas quando crianças.
Minha ideia, em resumo, é a de resgatar um pouco da cultura indígena, valorizando a pintura no rosto, os acessórios e os artesanatos, detalhes que estão se perdendo cada vez mais.
Justamente por ter levado uma proposta diferente das que elas estão acostumadas, logo depois de apresentar o projeto, precisei contar com a aceitação delas em participar, o que significou esperar que elas me procurassem, para aí então fazer o registro das crianças.
E, que felicidade! Para minha surpresa, apenas após algumas horas umas mães, juntamente com seus filhos, aceitaram a proposta e ainda trouxeram alguns artesanatos para compor o cenário.
Do desafio a experiência incrível
Acredito que a experiência mais interessante foi a de “dirigir” as crianças durante as sessões. Estamos tão acostumados a sorrir para uma foto, até mesmo nossas crianças, que o sorriso sai naturalmente. Para essas crianças, porém, não é algo natural. Elas não estão acostumadas a ser fotografadas, algumas até acredito que nunca foram fotografadas. Imagine! Aí, aparece uma “estranha”, com um acessório – a máquina fotográfica – apontado para elas, pedindo que elas sorrissem sem motivo. Pensando bem, é realmente estranho…
Mas, missão cumprida! O mais importante foi registrar a expressão natural de cada criança, cada uma com seu jeito, com o olhar atento para a câmera, algumas sem até saber o que significava.
Aos poucos, cada mãe foi acreditando no trabalho, gostando da proposta e trazendo suas crianças. Elas mesmas mostravam lugares diferentes para fotografar, como a beira do rio, e elas também pintavam as crianças com urucum e traziam colares, brincos, além de terem confeccionado cocai com tiras de palha apenas para as sessões.
Fui embora da aldeia muito feliz por ter conseguido realizar esse projeto e ter dado a oportunidade para essas mães de terem fotos de seus filhos em um álbum, já que hoje em dia as pessoas estão deixando de ter suas fotos no papel.
Agora, estou na expectativa de entregar para cada mãe o álbum e ver a reação delas ao folhear cada página com o rostinho de cada criança.
Katia Lopes é fotógrafa, nasceu em São Paulo, mas reside atualmente em Guajará-Mirim, Rondônia. Atende no estúdio Katia Lopes – Fotografia.
